May 16, 2022
Nesta tomada de posição, a líder do Partido de Esquerda sueco, Nooshi Dadgostar, contesta a decisão dos sociais-democratas de propor a adesão à NATO e arriscar a implantação de armas nucleares no país sem que o povo tenha sido ouvido. E lamenta que o país se tenha agora colocado numa posição de dependência do ditador turco que terá a palavra decisiva nessa adesão.
Reproduzimos aqui o texto publicado pela líder do Partido de Esquerda sueco, Nooshi Dadgostar, nas suas redes sociais a próposito do anúncio da proposta formal de adesão à NATO por parte do Governo da Suécia:
Hoje, os sociais-democratas fizeram o anúncio. Estão a aderir à linha da direita e querem agora trazer a Suécia para a aliança nuclear NATO. É uma mensagem esperada, mas sombria.
A Suécia tem estado militarmente não alinhada há mais de 200 anos, um caminho que tem mantido o nosso país fora de guerra. Os sociais-democratas querem agora atirar isto borda fora. E vão fazê-lo após um processo extremamente apressado em que os eleitores não tiveram oportunidade de tomar uma posição. O povo sueco não teve nenhuma palavra a dizer na decisão que afeta a segurança de todos, incluindo a dos nossos filhos e netos. É um passo forçado que não tem sido justificado em termos de política de segurança. As oportunidades para uma análise minuciosa têm sido muito limitadas.
A adesão à NATO corre o risco de provocar uma perigosa escalada na nossa região. As tensões serão inflamadas e o risco de conflito aumentará. É o caminho errado a seguir.
A NATO também significa que corremos o risco de sermos arrastados para as guerras de outros povos. Este é o significado das obrigações que decorrem da adesão à NATO. Há muitas ocasiões em que eu gostaria que a Suécia contribuísse, mas quero que decidamos por nós próprios. Na NATO, comprometemo-nos a enviar rapazes e raparigas suecos mesmo para batalhas de que preferíamos ter ficado fora. Aqueles que afirmam que a Suécia deve ser livre de escolher quando nos juntamos ou não são muito ingénuos quanto à forma como a NATO funciona. É uma aliança militar – esse é o objetivo da organização. Em alguns conflitos em que teríamos preferido não participar, haverá obrigações de participação, noutros conflitos haverá uma forte pressão política para nos chegarmos à frente. O que se espera que a Suécia faça pelos outros países da NATO é uma questão de política e de poder e não de lei.
A NATO a que os sociais-democratas querem agora que adiramos é uma aliança nuclear. É verdade que a NATO não é formalmente proprietária das armas nucleares, mas o seu planeamento de guerra é construído em torno da possibilidade de utilizar armas nucleares. As armas que são a maior ameaça de todas – uma ameaça existencial para toda a humanidade. As armas nucleares são algo a que devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para nos opormos, não nos amarrarmos a elas. Não importa o que os social-democratas dizem agora, existe um grande risco de que as armas nucleares venham a ser implantadas em solo sueco. Tornar-se-ão então naturalmente alvos estratégicos para a Rússia e aumentarão a ameaça sobre nós. Isto não é uma escalada que nos torna mais seguros.
“O melhor para a segurança e liberdade suecas é também a preservação da autodeterminação militar”
Na sexta-feira passada, todos pudemos ver outra desvantagem com a NATO: de repente, a Suécia encontra-se numa clara situação de dependência do déspota turco Recep Tayyip Erdoğan. É-lhe dada influência sobre as decisões fundamentais em matéria de política de segurança que nós, no nosso país, devemos ser livres de tomar como desejamos. A resposta do governo social-democrata até agora tem estado longe de ser convincente. Deve a Suécia sacrificar os Curdos para agradar a Erdogan?
A possibilidade de uma política externa sueca independente está agora a ser severamente cerceada. Com tudo o que isto implica para as nossas oportunidades de trabalhar pela paz e democracia – e, portanto, pela nossa própria segurança a longo prazo.
O ataque da Rússia à Ucrânia, que é contrário ao direito internacional, está a causar enorme sofrimento. E afeta-nos também a nós. É por isso que estamos agora a investir fortemente na defesa, tanto militar como civil, que o Partido de Esquerda apoia. Queremos uma cooperação estreita e forte com outros países. Mas o melhor para a segurança e liberdade suecas é também a preservação da autodeterminação militar. Num mundo em mudança, esta é a opção mais segura para a Suécia. Podemos então decidir por nós próprios como agir em situações futuras sobre as quais não podemos dizer nada hoje. É para mim evidente que isto, juntamente com uma forte defesa e estreita cooperação com outros países, é o que melhor serve a nossa segurança. É por isso que o Partido de Esquerda permanece a favor do não-alinhamento e contra a adesão à NATO.